Metodologia de Trabalho

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

DIFICULDADES ENCONTRADAS NOS PEQUENOS CLUBES DE FUTEBOL PROFISSIONAL
por Prof. Carlos Alberto

Quando vemos na televisão, nos jornais ou em revistas o sucesso alcançado por clubes
como o Cruzeiro, São Paulo e o Santos, a idéia que nos dá é que o futebol brasileiro possui uma
certa estrutura e organização, mas a realidade é bem diferente.
As dificuldades encontradas nestes pequenos clubes serão elucidadas a seguir.
Recursos Financeiros
Os clubes sofrem com a falta de dinheiro. Apesar do custo operacional, se comparado
aos grandes clubes, não ser elevado, é muito difícil obter um patrocinador fixo que
possa sustentar essa despesa. A cada ano que começa é uma nova batalha atrás de
recursos e patrocinadores. Outro aspecto que contribui para essa falta de recursos é a
inexistência ou inadimplência dos associados.
Elenco
A maioria dos clubes não consegue reunir um elenco que possa representar de forma
competitiva e eficiente as aspirações dessa entidade. A cada ano que se inicia é
necessário montar uma nova equipe, pois os clubes não mantêm seus jogadores ou
quando muito, mantêm os jogadores da cidade. Muitos atletas ou não possuem uma boa
capacidade técnica ou são completamente inexperientes. Isso acarreta enormes
dificuldades ao treinador para montar uma equipe competitiva.
Material de Trabalho
O material utilizado para a realização do trabalho, que inclui bolas, uniformes de treino,
cones, chuteiras, estacas etc., são fatores de fundamental importância na elaboração e
realização de um programa de treinamento em qualquer clube de qualquer divisão.
Bolas sem qualidade ou em quantidade inferior ao necessário; o mesmo com os
uniformes de treino, que em muitos casos são utilizados ano após ano; falta de cones,
estacas e cordas. É a realidade encontrada em muitos desses clubes. Existem casos de
treinos que precisam ser cancelados ou alterados pela falta ou inexistência de alguns
desses itens.
Acomodações
O alojamento é outro item que merece um destaque especial. Existem alojamentos com
baixas condições de higiene; chuveiros sem água quente; iluminação inadequada;
colchões velhos e estragados; inexistência de locais para os atletas estudarem, lerem ou
se reunirem e, falta de locais para recreação, como sala de jogos.
Verificam-se casos de atletas que apresentam dores nas costas por dormirem em
colchões estragados, ficam doentes por dormirem em locais úmidos e frios etc.
Alimentação
De fundamental importância para o desenvolvimento de um atleta profissional, a
alimentação normalmente não é adequada e assustaria qualquer nutricionista da área
esportiva. A variação dos alimentos, como frutas e verduras, normalmente não acontece.
O preparo dos alimentos também não é da maneira mais indicada. É muito comum
serem alimentos gordurosos e com muita fritura. Normalmente, os empregados
responsáveis pelo preparo dos alimentos não estão preparados tecnicamente para fazer a
alimentação de um atleta.
As condições de higiene da cozinha também estão longe das ideais. Se a vigilância
sanitária fizesse uma fiscalização, a grande maioria delas seria fechada.
A alimentação desses atletas não é satisfatória em quantidade, mas principalmente em
qualidade. Falando em qualidade é quase inexistente o uso de suplementos como
vitaminas, aminoácidos etc.
Viagens
Com as longas distâncias existentes, muitas equipes precisam viajar mais de dez horas para realizar uma partida. Em alguns casos as equipes chegam ao local do jogo, no dia da realização do mesmo, isso após viajarem cinco, seis horas. Os atletas dormem e descansam dentro do ônibus.
 O rendimento certamente será afetado.
Muitos desses ônibus não possuem a mínima condição para realizar esse tipo de
viagem. São ônibus velhos e desconfortáveis. Uma curiosidade é que o ônibus quebrar
durante o trajeto é uma situação comum enfrentada por essas equipes.
Instalações, Locais de Treinamento e Estádios
A prática mais comum é treinar no próprio estádio. Como foi elucidado anteriormente,
os clubes não possuem recursos para alugar campos para treinar e muito menos
possuem um centro de treinamento próprio.
Observam-se também campos de treinamento e jogo sem as mínimas condições, com
gramados irregulares e esburacados; vestiários sem condições de higiene e espaço.
Os estádios são outros locais que não atendem as exigências do Estatuto do Torcedor.
Não existem locais numerados; sinalizações adequadas; sanitários limpos e em
funcionamento; conforto mínimo; segurança etc.
Salários
Esse é um aspecto que beira ao ridículo quando se trata de uma profissão, um esporte
profissional e o maior esporte no Brasil. A falta de pagamento de salários ou benefícios
é uma prática comum, isso porque os salários são baixos, próximos ao salário mínimo
nacional. Muitos profissionais não são registrados ou o são com um valor irrisório.
A desculpa de que o clube não tem dinheiro para pagar altos salários, como acontece
nos grandes clubes, não pode ser aceita, pois como já foi dito os salários são baixos.
Em parte, o problema dos baixos salários é culpa dos próprios profissionais que acabam
aceitando qualquer proposta só para ter a oportunidade de trabalhar em um clube
profissional. Com isso, não valorizam seu trabalho e muito menos sua profissão.
Recursos Humanos
Enquanto os grandes clubes têm treinador; preparador físico; auxiliares; médico;
roupeiro (mordomo); enfermeiro (massagista); fisiologista; fisioterapeuta; assistente
social e psicólogo, os pequenos possuem em muitos casos o mínimo, um treinador, um
preparador físico, um enfermeiro, um roupeiro e só. Isso quando alguns poucos não
assumem várias funções. Mais uma vez a desculpa é a situação financeira.
Outro problema é a falta de capacitação dos profissionais. Com baixos salários e falta de
condições de trabalho, os profissionais que atuam nesses clubes, em muitos casos, não
possuem capacitação adequada para o cargo que exercem e a responsabilidade que o
mesmo exige.
Observam-se treinadores que não conduzem treinos adequadamente ou são verdadeiros
ditadores com métodos de treinamento completamente ultrapassados; preparadores
físicos que não evoluíram com os métodos científicos mais modernos e também
utilizam métodos de treinamento defasados, isso sem falar de enfermeiros e roupeiros,
conhecimento para a função que exercem.
Os dirigentes deveriam buscar contratar profissionais realmente capacitados para as
funções necessárias. Verificar a experiência e o conhecimento desse profissional, assim
como é feito em qualquer empresa quando precisa contratar um novo profissional.
Dirigentes
Assim como em alguns grandes clubes, nos pequenos também vemos casos de
dirigentes praticamente vitalícios e sem capacitação.
Existem dirigentes que não conhecem a realidade do futebol no século XXI e não se
preocupam nem um pouco com a situação dos membros da comissão técnica e dos
atletas.
A inexistência de dirigentes profissionais é outro fator que influencia negativamente na
administração dos clubes. Os clubes são administrados de forma ultrapassada e
amadora.
A falta de um trabalho de marketing e de divulgação é um aspecto que atrapalha na
obtenção de patrocínios, mas muitos desses dirigentes chegam a desconhecer o
significado da palavra marketing.
Política
Assim como em todas as áreas no nosso país, os pequenos clubes de futebol também
são influenciados pela política local. A escolha de dirigentes, de patrocinadores e até de
participação em alguns torneios, podem sofrer influência de interesses políticos.
Categorias de Base
Com a falta de recursos financeiros, os clubes praticamente não investem na base e a
grande maioria nem possui equipes dessas categorias. O pior é que os clubes não
enxergam que uma das soluções para os problemas financeiros é justamente investir nos
garotos. Já que não possuem dinheiro para contratar bons jogadores, a solução seria
formá-los dentro de casa.
O que se vê são jogadores com idade de juniores que não possuem experiência, pois
quando eram infantis e juvenis não disputaram torneios competitivos.
Novamente, volta-se a desculpa da falta de recursos. Enfatizo que um trabalho de
marketing eficiente e direcionado poderia angariar recursos locais para esse trabalho, até
porque é um trabalho de baixo custo operacional.
Educação
Não existe um projeto para a educação dos atletas. Muitos abandonam a escola por
preguiça ou por acharem que não podem estudar e ser atleta ao mesmo tempo. Existe
um total despreparo e desinteresse por parte dos dirigentes com relação à educação de
garotos e adultos.
O lado social dos atletas também é deixado de lado. Muitos atletas apresentam
problemas de conduta e convívio em grupo, chegando a ocorrer casos de furto e
homossexualismo. O mais grave é que os clubes não demonstram interesse em ajudar a
solucionar ou minimizar esses problemas.
Muitos garotos ao assistir a televisão e ver o sucesso alcançado no exterior por
jogadores como Ronaldo, Kaká, Ronaldinho Gaúcho,e
outros, acabam se iludindo e não sabem a grande dificuldade que existe no início de
carreira, principalmente em um clube pequeno.
Esses garotos abandonam a escola pela chance de vencer no futebol, mas apenas uma
minoria atinge o sucesso, a maioria infelizmente não consegue. Muitos acabam em
subempregos e até na marginalidade, pois não se prepararam ou não foram devidamente
orientados para buscar alternativas fora do futebol.
Quero salientar que essa situação é encontrada na maioria dos clubes, mas não em
todos. Existem pequenos clubes que possuem uma boa estrutura, dirigentes e
profissionais capacitados.
A situação é que muitas equipes, infelizmente, estão falidas e sem uma liderança forte e
competente. Encontram-se também clubes que alternam anos de total despreparo e falta
de condições, com anos de boas condições e bom trabalho.
O futebol é uma paixão de nosso povo. Os clubes e seus dirigentes deveriam respeitar o
cidadão que torce por uma bandeira ou distintivo e, principalmente, respeitar aqueles
que procuram honestamente vencer por meio do futebol, inclui-se treinadores,

5 comentários:

  1. Tudo o que voce colocou no texto, Professor, é a mais pura verdade da nossa realidade.
    Só faltou voce complementar que os clubes contratam jogadores e toda uma equipe para os campeonatos, e quando eles acabam, todos ficam desempregados, alguns atletas são vendidos enquanto os cartolas colocam dinheiro no bolso.

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  2. Infelizmente uma profissão que teria tudo para ser bem valorizada, uma vez que nosso país é um verdadeiro celeiro de mão de obra qualificada, ainda está preso a pessoas que não se importam em formar jogadores e sim lucrar a todo custo. Acompanho bem as categorias de base, pois tenho filho que joga e sei o quanto é duro seguir nessa caminhada, por se tratar de um clube pequeno onde o talento nato (dom)em muitas vezes é deixado de lado por interesses alheios. Parabéns pelo texto, não é porque está desse jeito que devemos nos acomodar, e sim expor de maneira clara a verdadeira situação a fim de tentar mudar pelo menos a concientização de quem realmente se interessa. Abraços

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  3. Parabéns Professor Carlos, pela abrangente análise!

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  4. Professor tudo verdadeiro mas sintético repare o que se pergunta é se ai como aqui os clubes estaram preparados ou mesmo saberão como elaborar um Planeamento Estratégico nas suas diversas e amplas questões como por exemplo analise situação histórica do clube
    - Organização do processo para elaborar um plano estratégico -análise estratégica do clube -Marketing etc...
    A elaboração de um Planeamento Estratégico é uma das ferramentas de gestão mais versáteis da actualidade porque permite num só documento estruturar um estudo do passado e situação actual do Clube, definir as metas e objectivos a atingir e o modo como se pretendem atingir e simultaneamente propor ferramentas para que a implementação de um plano seja um êxito...esta a minha questão a quem o visita neste blog e a quem comenta este artigo...grande abraço..do José Carlos Treinador UEFA -Portugal

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