Metodologia de Trabalho

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Entrevista com Fred Rutten, treinador do PSV Eindhoven, da Holanda
Comandante principal da tradicional equipe europeia fala sobre aspectos de treinamento e gestão de pessoas: "Trabalhar com pessoas é uma das minhas qualidades”
Rogier Cuypers*
“O que eu exijo de mim mesmo, eu também demando dos meus jogadores”. Assim como muitos outros clubes, o PSV teve seus altos e baixos durante esta temporada. Fred Rutten se manteve calmo e não entrou em pânico como treinador. Rutten tem uma visão e ele continua a defendê-la custe o que custar. Embora ele continua focado, há algum espaço para a flexibilidade dentro dessa visão, mas ele nunca desvia de sua missão, nem mesmo quando os resultados são decepcionantes.
Dois dias antes dessa entrevista, o PSV Eindhoven havia jogado fora de casa em um triste empate sem gols contra o De Graafschap, mas Fred Rutten não se mostrou nem impressionado, nem decepcionado, e manteve-se calmo e centrado.
O ambiente com os jogadores presentes na lanchonete era descontraído e jovial. Momentos antes de eu chegar na lanchonete, um anúncio comercial foi filmado com os jogadores e eles estavam se divertindo muito - tirando sarro de si mesmos. Rutten se desculpa pela sua chegada atrasada para a entrevista, e o almoço também leva mais tempo do que esperávamos. Ele foi direto ao ponto: "se eu devo aplicar três termos que descrevem a minha perspectiva ou são importantes para mim como treinador e gerente, eu diria que: a) perfeccionista, b) desenvolvimento individual pessoal e profissional, e c) desenvolvimento. da equipe.
Eu não tinha ideia de que eu era um perfeccionista como treinador no início, mas eu sempre quis tirar o máximo dos jogadores como pessoas, e para chegar a isso você deve mirar alto”.

Perfeccionista
"O que eu exijo de mim mesmo, eu também demando dos meus jogadores. Eu sempre presto atenção aos detalhes e trabalho em um nível onde os jogadores podem jogar futebol, e também é tudo sobre a aplicação de detalhes e tornando-o mais perfeito possível. Deve ser lembrado que todos os jogadores são diferentes, e você não pode envolver todos no mesmo nível com certos aspectos; jogadores diferentes têm suas próprias qualidades. Por exemplo, no ano passado, nós trabalhamos muito com o Nodin Amrabat (que agora foi para o clube turco Kayserispor), e ele melhorou muito com o treinamento apropriado e de correção, com seu primeiro toque e controle da bola. Isto, por sua vez, levou-o a ter mais de confiança certamente para: controle de bola, manutenção da posse de bola, passes, etc. Todos esses aspectos são fundamentais para nossas estratégias de jogar em espaços reduzidos.
Ser perfeccionista pode ser difícil às vezes, pois você (como treinador) tenta transmitir seus ideais aos seus jogadores, e eu acho que ser um perfeccionista também faz você (como treinador e como jogador) mais crítico, mas é preciso avaliar quão duro você está sendo com os comentários regulares aos jogadores”.

Desenvolvimento individual pessoal e profissional
"Se você pode melhorar o indivíduo, toda a equipe pode se beneficiar, já que o desenvolvimento do jogador e da equipe são evidentemente inter-relacionados.
É importante perceber as diferentes perspectivas de aprendizagem de seus jovens jogadores em contraste com os de 27 ou 28 anos de idade, em que todos os aspectos de maturidade dos jogadores são diferentes, bem como suas motivações e perspectivas gerais. Com uma completa abordagem holística, é necessário considerar também fatores externos que influenciam, como a sua casa e ambientes sociais.
Tanto quanto você quer se concentrar no futebol, você tem que tratar o jogador como uma pessoa inteira e considerar todos os fatores que influenciam, mas no final das contas você não pode mudar algumas dessas coisas e é a oportunidade que você dá para o jogador, para o qual ele deve assumir a responsabilidade de realizar”.

Plano de desenvolvimento pessoal
"Assim como muitos outros clubes, também trabalhamos com um plano de desenvolvimento pessoal. Durante a entrevista (introdução) inicial, especificamente olhamos para o que o jogador quer melhorar como objetivos, como melhorar o que (como um plano de ação), e quem vai facilitar e verificar o desenvolvimento (como um mentor). Este plano de desenvolvimento pessoal é continuamente documentado e verificado regularmente com negociação e acordo por ambas as partes”.
“Os jogadores têm a responsabilidade de cumprir o seu contrato (assim como o clube), mas um sentido de entendimento deve ser aplicado e, possivelmente, reconhecendo as diferenças pessoais e culturais que podem ter uma influência sobre os comportamentos dos jogadores e suas perspectivas. Carlos Salcido (México), por exemplo, teve dificuldades quando apresentamos e mostramos imagens de vídeo, e "Maza" Rodriguez, que também é do México, não se importava. Então pode ser cultural (social, religião ou geográfica) ou aspectos pessoais (família, socialização, ou apenas crenças pessoais). Eu poderia corrigir ou re-modelar o Douglas que joga no FC Twente (onde eu era treinador antes de estar no PSV) na frente do grupo, mas com os outros métodos não foram tão apropriados.
Finalmente, você precisa trabalhar com seus jogadores para compreendê-los, depois para compreender a si mesmo, e que em última análise, todos eles são diferentes e precisam ser tratados e orientados nesse sentido”.


 

Visão de jogo
"Pode ser bom ter uma visão estratégica, formação e abordagem para o jogo, mas você deve manter-se flexível para mudar e adaptar-se, dependendo do que acontece. Eu gosto de começar 1x4x3x3 como base, e isso funciona bem com a opção de mudar as coisas durante o decorrer do jogo com jogadores, como Jeremain Lens na ala direita, que é mais flexível do que um ala direito estático; também o Afellay (que foi transferido para o FC Barcelona) jogava nessa posição, mas de uma maneira diferente”.

Crítica: muito defensivo?
"Eu não leio tudo que está impresso nos jornais, mas o departamento de imprensa recolhe o que pode ser importante para mim. Eu tenho certo conceito na minha cabeça e eu fico com isso, mas às vezes pode ser necessário adaptá-lo um pouco. Acredito que você deve ficar com o conceito e em nenhum momento eu sou influenciado ou pressionado pelo que está escrito sobre mim.
Estamos sempre em desenvolvimento como equipe, assim como indivíduos que constituem a equipe, e no curso de uma temporada sempre haverá altos e baixos, mas eu afirmo que eu não entro em pânico por causa de quaisquer circunstâncias variáveis.
Em jogos em casa, eu gosto de tomar a iniciativa com uma abordagem positiva, e pretendemos ter a posse de bola 65 por cento de todos estes jogos. Apesar disso, também temos um bom time que pode criar um monte de chances jogando com a posse de bola, mas também pode atuar no contra-ataque.
Temos a equipe que marcou mais gols na Primeira Divisão da Holanda (Eredivisie), e isso diz muito, mas é claro que, mesmo com resultados mais expressivos, como o 10-0 contra o Feyenoord, mostra que temos a capacidade de jogar e criar chances, ambas com a maioria da posse de bola e também jogar no contra-ataque e marcar gols. Com outros resultados com menos gols ou então sem gols, temos que procurar áreas para treinar individualmente ou áreas que funcionaram como estratégia e formação tática”.

Preparação física
"Temos um número de jogadores que já havia jogado em competições diferentes, com os jogos no sábado e na quarta-feira e ainda éramos a equipe a ser batida na Holanda. Stanislav Manolev é um jogador que inicialmente tinha vários problemas na última temporada com a questão de transição de competições e equipes, e embora jogando constantemente antes da pausa do inverno, ele estava sofrendo de exaustão. Nesta temporada, mal temos jogadores lesionados, com a nossa equipe médica tendo calculado que a média de problemas desta ordem foi de 3,8 atletas ao longo da temporada. 

Em relação a Manolev, ele sofreu uma lesão de longa duração e que afetou nossa taxa de pontuação. A relação trabalho/descanso dos horários de treinamento é bem cautelosa no PSV, mas trabalhamos em ciclos de quatro semanas, e embora seja sempre um programa bem ativo, estamos sempre adaptáveis para adicionar outros aspectos de treinamento”.

Processo de seleção
"A comunicação é muito importante, especialmente dentro de um grupo grande, como uma equipe ou time. Os jogadores devem ser capazes de identificar-se com o PSV, de pertencer, fazer parte dele, e pronto para realmente 'mostrar', quando forem chamados. Há um caráter e uma cultura que é "total" desde um treinamento básico até o vestiário, e o clima se permeia através dessa capacidade condicionada e da atitude em campo. Ultimamente, os resultados e a equipe estão acima de qualquer indivíduo.
Os jogadores precisam exibir todos os atributos e habilidades, juntamente com a atitude moderada e determinação de uma ética de trabalho (taxa de) infinito, e então eles têm a chance de estar nos meus (melhores) onze. Infelizmente, existem alguns que não cumprem todos os critérios e eu tenho que decepcioná-los, mas eu não estou perturbado por isso, é meu trabalho”.

O canto psicológico
"Eu sempre opero uma política de ‘porta aberta’, e estou sempre disponível para qualquer jogador vir até mim e apresentar todos os problemas ou preocupações. Se um jogador está tendo adversidades em casa, por exemplo, seus filhos estão envolvidos, eu lhes permitiria ficar em casa – algumas coisas são mais importantes que talvez uma sessão de treinamento. Eu não me distancio ou me mostro indiferente com meus jogadores, pois trabalhar com pessoas é uma das minhas qualidades.
No caso de Jonathan Reis, eu tive que buscar assistência externa. Aspectos psicológicos da psicologia do esporte requerem conhecimento e aplicação especializados, mas têm provado ser uma ferramenta importante para os indivíduos e os casos de equipe”.


 
A temporada 2009-10 começou frutuosamente para Reis, quando ele marcou três gols na Primeira Divisão da Holanda (Eredivisie), quatro gols na Liga Europa, e outro na Copa da Holanda, apesar de ter apenas começado alguns jogos. Como recompensa, Fred Rutten oficialmente promoveu Reis para o plantel da equipe principal. Em 24 de janeiro de 2010, porém, seu contrato foi encerrado depois que ele testou positivo para uma substância proibida e, posteriormente, recusou a oferta do clube de ajuda para tratar a dependência de drogas.
Reis era (contratualmente e legalmente) proibido de assinar por outro clube e então realmente procurou ajuda. Ele fez o seu retorno ao PSV em 17 de julho de 2010, quando lhe foi oferecido um novo contrato no clube, o que significaria que ele ficaria no clube por um ano, com a opção de estender o contrato em um negócio de mais três anos. Ele marcou três vezes contra o Feyenoord em uma vitória por 10-0 em 24 de outubro de 2010, e marcou vários outros gols pelo PSV, antes de lesionar seriamente seu joelho contra o Roda JC em 19 de dezembro de 2010, que resultou em duas operações realizadas pelo famoso cirurgião Richard Steadman, nos EUA, antes de iniciar sua reabilitação de volta em Eindhoven.

Assistentes
"Espero que minha equipe seja capaz de dar uma sessão de treino de forma independente, mas depois, os comentários, análises, avaliações e decisões sobre jogadores individuais e da equipe são discutidos e compartilhados por completo. Isso envolve todos os aspectos das condições físicas, psicológicas e toda a habilidade técnica e valores táticos, e é a colaboração que produz as melhores avaliações e decisões, e também os resultados”.

Pressão
"Você deve manter o foco e trabalhar no processo de treinamento adequado em todos os momentos, defendendo seu caráter e sua filosofia para o desenvolvimento e sucesso do indivíduo e da equipe. Você não deve desanimar-se e hesitar se os resultados forem decepcionantes, nem ter medo de se adaptar ou mudar as coisas que você (ou a equipe) fazem, sendo flexível e experimental.
Você sempre sente a pressão em um clube de primeira linha que você tem que lidar, mesmo na loja oficial, você vai ter comentários sobre o desempenho e os resultados, especialmente se você perder. Eu trabalho no topo da competição holandesa, o que significa que você tem que lidar com a mídia o tempo todo, mas também com os torcedores, em pessoas na rua ou comentários e declarações em sites online ou várias outras formas de mídias sociais.
Tenho trabalhado no mais alto nível já há alguns anos, e sou, de certa forma, acostumado com isso. Por exemplo, do Schalke '04, eu ainda tenho boas lembranças sobre o meu tempo lá. O jeito que eu pude trabalhar lá foi fantástico, mas os resultados foram decepcionantes. O truque era manter o foco e elevar-se acima de tudo, acreditar em si mesmo e manter o seu caráter e a filosofia que se aplica ao seu trabalho e à sua vida”.

Fred Rutten


Clube como jogador profissional:
 
FC Twente (1980-1992)
Jogos pela seleção: 
1
Biografia:

Nome Completo:
Fredericus Jacobus Rutten
Data de nascimento:
5 Dezembro 1962
Local de nascimento:
Wijchen, Holanda
Clubes como treinador:
1993 - 1999 FC Twente (Assistente)
1999 - 2001 FC Twente (Treinador)
2002 - 2006 PSV (Assistente)
2006 - 2008 FC Twente (Treinador)
2008 - 2009 Schalke ‘04 (Treinador)
2009 - Present PSV (Treinador)


*Contribuição da revista Soccer Coaching International – www.soccercoachinginternational.com

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